V de Vingança: quadrinho x filme — revolução ou espetáculo?

A máscara de Guy Fawkes, explosões simbólicas e um grito contra a opressão: V de Vingança marcou gerações tanto nos quadrinhos quanto no filme. Mas será que a adaptação cinematográfica capturou a essência radical da obra original de Alan Moore?
A revolução anarquista e crua das páginas de Moore se transformou em um espetáculo visual e emocional nas telas, suavizando algumas arestas. Essa adaptação foi uma traição à visão do autor ou uma forma necessária de levar a mensagem a um público maior, transformando a anarquia em um símbolo pop de resistência?
Hoje vamos comparar as duas versões de V de Vingança: o quadrinho denso e político versus o filme simbólico e acessível. Analisaremos as principais diferenças na abordagem dos personagens, da trama e da mensagem central para entender se temos uma revolução ou um espetáculo.
O Quadrinho: A Revolução Anarquista de Alan Moore

Lançada nos anos 80, a história foi escrita por Alan Moore e ilustrada por David Lloyd. O cenário é um Reino Unido distópico, dominado por um governo fascista e controlado por uma vigilância constante. É nesse mundo que surge o misterioso “V” — um anarquista mascarado que decide derrubar o sistema, uma explosão simbólica por vez.
Mas não se engane: o quadrinho é denso, político e radical. Moore não queria apenas entreter, ele queria provocar. O personagem “V” é ambíguo, beirando o terrorista. Ele não é exatamente um herói pelo menos não no sentido tradicional. Isso faz parte do charme da obra: ela não entrega respostas fáceis.
E sabe o que é mais interessante? Tudo é pensado pra colocar o leitor pra refletir. A linguagem é pesada, cheia de referências filosóficas e históricas. E a arte? Escura, quase opressiva, pra reforçar o clima tenso do regime que V quer derrubar.
Reflexões além do papel
Moore sempre disse que queria despertar o pensamento crítico. Pra ele, a anarquia não é caos, mas liberdade plena. A ideia era mostrar como o poder corrompe, e como o medo mantém as pessoas obedientes. Duro, né? Mas real.
Aliás, é impossível ler essa HQ e não pensar em situações do nosso dia a dia, especialmente quando a gente sente que o sistema não escuta quem realmente precisa ser ouvido.
O Filme: O Espetáculo Simbólico das Wachowskis

Em 2005, o cinema recebeu sua versão de “V de Vingança”, produzida pelas irmãs Wachowski (as mesmas de “Matrix”) e dirigida por James McTeigue. E o resultado? Um filme visualmente marcante, com frase forte atrás de frase forte, como a clássica “Ideias são à prova de balas.”
Mas o clima é outro: o filme é mais emocional, com foco nas relações humanas e em uma mensagem de esperança. O personagem V continua sendo um rebelde, claro, mas agora com um toque mais “heróico”. Evey, a protagonista vivida por Natalie Portman, ganha uma jornada de crescimento mais clara, mais “cinematográfica”.
Simbolismo em alta

Se no quadrinho a anarquia é a base, no filme a revolução vira quase um símbolo poético. A estética é impecável: a máscara de Guy Fawkes virou ícone, as explosões são coreografadas com música e luzes. É quase um balé da revolta.
A trilha sonora épica, os discursos poderosos e o final que emociona garantem que o filme fique com você mesmo depois da sessão acabar. Mas será que essa suavidade não tira um pouco do peso da obra original?
+ Leia mais: Como Duna moldou o universo de Star Wars
Quadrinho vs. Filme: As Principais Diferenças
Pra facilitar, aqui vai um resumo das principais diferenças entre as duas versões de V de Vingança:
- Tema central: No quadrinho, o foco está na anarquia e no pensamento político. No filme, a ênfase vai para a libertação individual e o simbolismo da resistência.
- Personagem V: Mais sombrio, misterioso e até cruel no quadrinho. Já no filme, ele é mais carismático e menos questionável.
- Evey: Nos quadrinhos, ela tem um arco complexo e profundo. No filme, sua transformação é mais levinha e doce.
- Final: A HQ termina com um clima de dúvida — será que deu certo? Já o filme fecha com uma cena inspiradora e um ar de vitória coletiva.
Revolução Crua ou Esperança Cinematográfica?

Muita gente se emociona com o filme e se inspira com o discurso de liberdade. Outras preferem o soco na boca do estômago que o quadrinho entrega. E tá tudo bem. Os dois formatos possuem valor e cada um conversa com pessoas de formas diferentes.
Mas é interessante pensar: será que o filme precisou mesmo suavizar tanto a visão do Moore pra agradar o grande público? Ou foi uma escolha consciente pra adaptar as mensagens ao contexto atual?
Na minha opinião, o filme é uma bela porta de entrada pra conhecer a história. Mas o quadrinho entrega camadas que exigem mais do leitor e talvez, por isso mesmo, sejam mais impactantes.
O Legado de V: Da Revolução Anarquista ao Símbolo Pop
Mesmo anos depois, “V de Vingança” continua atual. A máscara de Guy Fawkes virou símbolo de protestos ao redor do mundo do movimento Anonymous às ruas do Brasil em 2013 . E isso mostra como a ficção pode influenciar o real.
Seja nas páginas da HQ ou na telona do cinema, a história de V nos faz refletir sobre controle, medo, resistência e, claro… coragem. Afinal, como dizia o próprio V:
“O povo não deve temer seu Estado. O Estado deve temer seu povo.”
Quer saber mais?
- Quadrinho V de Vingança , de Alan Moore e David Lloyd - leia o original e tire suas próprias conclusões.
- Artigo: Sobre Constitucionalismo e democracia - várias publicações trazem análises interessantes.
Curtiu o conteúdo? Então compartilha com seus amigos fãs de HQs, cinema e revolução.
Leia Também
- Como filmes usam o meio ambiente como pano de fundo para narrativas complexas
- Como seria a internet na Terra-Média
- Star Trek vs. Star Wars: Quem Tem a Melhor Utopia?
- Como Duna moldou o universo de Star Wars
- O que aconteceria se um humano usasse o Anel do Lanterna Verde?
Sharing is caring!