O multiverso anula o livre-arbítrio?

Apr 29, 2025 · 6 mins read
O multiverso anula o livre-arbítrio?

De Doutor Estranho ao Aranhaverso, o conceito de multiverso invadiu a cultura pop, nos fazendo imaginar realidades onde nossas escolhas foram diferentes. Essa ideia fascinante de que existem infinitas versões de nós vivendo outras vidas levanta uma questão filosófica que mexe com a nossa cabeça: se tudo que poderíamos ser já existe em algum lugar, o nosso livre-arbítrio ainda tem algum valor?

Afinal, a existência de universos paralelos para cada “sim” e “não” pode ser a prova máxima da nossa liberdade, cada decisão é tão real que cria um novo mundo. Ou, pelo contrário, ela transforma nossas decisões em meras estatísticas em um oceano cósmico de possibilidades, anulando o peso de quem escolhemos ser aqui e agora? É um paradoxo que desafia a própria noção de identidade.

Neste artigo, vamos mergulhar de cabeça nessa discussão. Analisaremos o que a teoria dos muitos mundos diz sobre nossas vidas, se o livre-arbítrio pode ser apenas uma ilusão e por que, no fim das contas, a sua versão da história é a única que realmente importa. Prepare-se para questionar a realidade (ou as realidades).

Entendendo o Multiverso e a Teoria dos Muitos Mundos

Antes de questionarmos o livre-arbítrio, vamos entender o que a teoria do multiverso realmente propõe, tanto na ficção quanto na ciência. Na ficção, ele aparece em filmes como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Everything Everywhere All at Once e até em animações como o Aranhaverso. Mas a ciência também considera a ideia como uma possibilidade teórica.

Basicamente, o multiverso seria um conjunto de universos paralelos versões diferentes do nosso, com suas próprias histórias, regras e acontecimentos. Na teoria mais popular, chamada de teoria dos muitos mundos (ou “Many Worlds”), cada escolha que fazemos cria um universo novo, onde a outra opção também acontece. Ou seja, para cada “sim”, existe um “não” acontecendo em outro canto da realidade.

O livre-arbítrio é a ideia de que temos liberdade para tomar decisões e que nossas escolhas moldam nosso futuro. É isso que dá aquele peso gostoso (ou assustador) de saber que cada pequena escolha importa.

Agora, se em algum universo paralelo você faz exatamente o oposto do que fez aqui, será que sua escolha foi realmente sua? Ou será que tudo o que poderia acontecer… já está acontecendo, só que em outro lugar?

O Paradoxo: O Multiverso Prova ou Anula o Livre-Arbítrio?

Aqui entramos no coração do debate: o multiverso pode ser visto tanto como a celebração máxima do livre-arbítrio quanto como sua anulação completa. Pensa comigo: se cada decisão cria um universo novo, isso poderia significar que você realmente tem liberdade total de escolha você pode fazer qualquer coisa, porque todas as possibilidades já existem de alguma forma. Por esse pensamento, o multiverso seria uma prova intensa do livre-arbítrio, e não o contrário.

Por outro lado, se todas as escolhas possíveis já estão rolando em alguma dimensão, dá quase a sensação de que você não controla nada. Afinal, não importa o que você escolha, já existe uma versão sua que escolheu diferente. Meio Black Mirror, né?

O buffet livre

Imagina que você foi num rodízio desses bem gostosos, com churrasco, feijoada, macarronada… tudo junto. Cada prato representa uma decisão sua. Ao invés de escolher um só, você pode experimentar tudo, só que em mesas diferentes ao mesmo tempo. Cada mesa é um universo paralelo com uma versão sua vivendo aquela escolha.

Saborear várias opções é bom, sim. Mas no final, você saiu do restaurante com a sensação de que não escolheu nada de verdade? Ou será que aproveitou ao máximo a liberdade de experimentar?

O Livre-Arbítrio Pode Ser Apenas Uma Ilusão?

Essa discussão sobre o multiverso nos leva a uma pergunta ainda mais intrigante: e se o nosso livre-arbítrio já for, por si só, uma ilusão? Essa pergunta é comum até fora do mundo nerd. Cientistas, filósofos e até religiosos já discutem se temos mesmo controle sobre nossos pensamentos e ações. Se fatores como genética, ambiente e experiências anteriores influenciam tudo que fazemos, o multiverso seria só mais um argumento reforçando isso.

Mas pensa o seguinte: ainda que várias versões suas existam, nesta realidade aqui você está fazendo escolhas. Você poderia fechar essa aba agora, mas decidiu continuar lendo. Nesse momento, você tem agency. E talvez seja isso que importa de verdade.

Por Que a Sua Versão da História é a Única que Importa

Mesmo que o multiverso seja real, a experiência de cada versão sua é única, e é aqui que o conceito de livre-arbítrio ganha um novo significado. Ainda que todas as possibilidades existam, só você vive esta versão. Só você tem sua história, lembranças, arrependimentos e conquistas. É como quando jogamos um RPG: o jogo tem vários caminhos possíveis, mas a jornada que você traça é única e é ela que te marca como jogador(a).

O Multiverso Como Testemunha das Nossas Escolhas

No fim das contas, a resposta talvez não seja “sim” ou “não”. Pode ser os dois ao mesmo tempo, como um bom paradoxo quântico.

O multiverso não precisa acabar com a ideia de livre-arbítrio. Ele pode ser, na verdade, um lembrete de como temos infinitas possibilidades à nossa frente. Cabe a você aproveitar os caminhos disponíveis e construir sua própria história mesmo sabendo que, por aí, outras versões suas estejam fazendo diferente.

E os erros? Bom, mesmo que outra versão sua tenha feito melhor, é você quem aprende com os seus. Isso, o multiverso não pode copiar.

Quer saber mais?

  • Universo Elegante , de Brian Greene – fala sobre física de forma acessível, incluindo o multiverso.
  • Teoria dos Muitos Mundos – pesquisa sobre Hugh Everett III e seus estudos.
  • Filmes como: “Matrix”, “O Show de Truman” e “Donnie Darko” – todos brincam com a realidade, escolhas e consequências.
  • Podcasts e vídeos de ciência pop – como os do canal Nerdologia ou Ciência Todo Dia.

Agora conta pra gente: qual versão de você está lendo esse post – a curiosa, a filosófica ou a que só queria descansar e caiu aqui por acaso? De qualquer forma, tá valendo.

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