A empresa Lumon viola os direitos humanos?

Sep 11, 2025 · 6 mins read
A empresa Lumon viola os direitos humanos?

A premissa da série Ruptura (Severance) é, ao mesmo tempo, fascinante e aterrorizante: uma empresa chamada Lumon Industries oferece um procedimento que separa cirurgicamente a mente de seus funcionários entre a vida pessoal e a profissional. Mas por trás da promessa de um equilíbrio perfeito, surge uma questão perturbadora: essa prática de criar uma consciência que só existe para trabalhar viola os direitos humanos?

A versão “interna” de cada funcionário nasce sem consentimento, vive em uma prisão corporativa sem memórias ou identidade própria e não tem o direito de sair. Isso transforma o debate de uma simples ficção científica em uma poderosa alegoria sobre a exploração no mundo do trabalho, nos forçando a questionar a ética de um sistema que nos desumaniza em nome da produtividade.

Vamos analisar a fundo as práticas da Lumon sob a ótica dos direitos humanos fundamentais, como o direito à identidade, à liberdade e ao consentimento. Vamos explorar como a série funciona como uma crítica ácida à cultura corporativa e por que essa distopia pode não estar tão distante da nossa realidade. Prepare-se para questionar os limites entre trabalho e vida.

O que é a Lumon Industries?

Para quem não está familiarizado, a Lumon é uma empresa fictícia que faz parte do universo da série Ruptura. Eles criaram um processo chamado “severance”, que separa completamente as memórias da pessoa entre o ambiente de trabalho e sua vida fora da empresa.

Isso mesmo: quando o funcionário entra no elevador, sua mente faz um ‘clic’, e a pessoa que está ali é a sua versão “no trabalho” (conhecida como interno), sem nenhuma lembrança da vida lá fora. E quando sai, é como se nada tivesse acontecido durante o expediente é a versão “de fora” (chamada de externo).

A Tecnologia de Ruptura: Solução ou Prisão Mental?

Na teoria, parece um jeito de deixar os problemas do trabalho no escritório e relaxar em casa sem estresse, não é? Mas a questão é mais profunda. Imagine o que significa viver uma vida inteira dentro de um escritório, sem sequer saber quem você é fora dali. É uma existência parcial, quase como uma prisão disfarçada de emprego.

A gente até faz piada disso, quantas vezes já ouvimos “minha alma sai do corpo às 18h”? Mas o que a Lumon propõe passa dos limites da brincadeira. Aqui estamos falando de uma vida sem liberdade, sem escolhas e sem identidade completa.

+ Leia mais: O que aconteceria com um cérebro dividido como em Ruptura?

A Lumon Viola os Direitos Humanos Fundamentais?

Vamos pensar no que caracteriza os direitos humanos. De forma simples, são garantias básicas para todo ser humano viver com dignidade, liberdade, segurança e identidade.

A Lumon, com sua tecnologia, coloca em cheque alguns desses direitos:

  • Direito à identidade: Separar a mente de alguém em duas pessoas independentes é, na prática, apagar parte da sua identidade. O interno nunca sabe quem é fora do escritório. Isso é justo?
  • Direito ao consentimento: O interno não teve escolha sobre sua existência. Ele foi “criado” quando o Externo aceitou a operação. Mas e o direito do recém-criado Interno? Ele nunca concordou com nada.
  • Direito à liberdade: Imagine ser condenado a viver preso num escritório, para sempre, sem nunca ver a luz do dia. Isso lembra um pouco trabalhos forçados… ou até castigo eterno.

Agora pensa comigo: se fosse aplicado no mundo real, seria legal alguém viver assim? As leis brasileiras, como a Constituição Federal de 1988, garantem que a dignidade da pessoa humana é um dos princípios fundamentais. Sob essa perspectiva, a prática da Lumon seria não só ética e moralmente questionável, mas possivelmente inconstitucional.

Ruptura Como uma Crítica à Cultura Corporativa

É aí que a série acerta em cheio. Ruptura não está só contando uma história de ficção científica bizarra, mas fazendo uma crítica afiada à forma como as empresas tratam seus funcionários no mundo real.

Quantas pessoas você conhece que mal têm tempo para si mesmas porque passam o dia inteiro no trabalho? E pior: quantas esquecem seus próprios sonhos, vontades e desejos por causa da rotina cansativa do escritório?

A “ruptura” da mente na série é uma metáfora para essa desconexão emocional que muita gente sente entre o “eu social” e o “eu profissional”. E isso levanta uma questão importante: até que ponto nossa identidade está sendo moldada ou apagada pelo ambiente corporativo?

Consentimento ou Coerção? A Falsa Escolha dos Funcionários

lumon

Tem gente que poderia dizer: “Ah, mas o funcionário concordou com o procedimento!” Mas será que um acordo feito sob pressão social, econômica ou emocional é realmente livre?

Pense em uma pessoa que perdeu o emprego e vê na Lumon uma chance de estabilidade. Desesperada, ela aceita. Ela de fato teve escolha? Essa discussão entra no campo da ética e do livre arbítrio, temas que filosofia, psicologia e direito estudam há séculos.

Na prática, isso nos obriga a repensar certas situações do nosso dia a dia. Até que ponto dizer “sim” a um trabalho que nos desumaniza é uma escolha real?

Claro, tudo isso ainda é ficção científica pelo menos por enquanto. Mas o avanço da inteligência artificial, dos dispositivos que coletam nossos dados e das tecnologias de monitoramento levanta um alerta importante. Estamos caminhando para uma sociedade onde privacidade e identidade estão cada vez mais ameaçadas.

Aqui no Brasil, já temos leis como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) que buscam proteger as informações pessoais dos cidadãos. Mas e quando a tecnologia começa a mexer com a nossa própria consciência? É hora de discutir, pensar e legislar antes que a ficção vire realidade.

A Lumon e a Violação da Dignidade Humana

Se colocarmos as práticas da Lumon sob a lupa dos direitos humanos, fica difícil defender que aquilo seja aceitável em qualquer sociedade democrática. A privação de identidade, de liberdade e de consentimento coloca seus funcionários num estado contínuo de opressão mesmo que tenham sorrido no vídeo de recrutamento.

É claro que a série exagera (e muito) para fazer seu ponto. Mas ainda assim, nos convida a parar e refletir: estamos vivendo de verdade ou só funcionando no modo automático?

Para refletir:

  • Como a sua identidade é afetada pelo ambiente de trabalho?
  • Você acredita que, no futuro, tecnologias como a da Lumon podem existir?
  • O que você faria se soubesse que seu “eu profissional” vive uma vida separada e sem liberdade?

Quer saber mais?

  • Ruptura (Severance) – Série disponível na Apple TV+
  • Documentário “O Dilema das Redes” – Netflix, sobre ética e tecnologia
  • Livro: “ Vigilância Líquida ”, de Zygmunt Bauman

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